Do poder da escrita

Pedro Fernandes


No princípio era o verbo
- Bíblia, João, 1: 1-18



Uma folha branca. Ela é um desafio para escritor de qualquer nível vencido a cada momento em que novas palavras e idéias surgem para preenchê-la. 

Vejo a escrita como um processo delicado. Através dela somos colocados diante situações que esperam ser resolvidas. Isso é o que chamo pensar com palavras. 

Comparo escrever com entrar num mundo escuro e desconhecido. É um problema que nos traz satisfação e conhecimento. Agora mesmo é tudo breu. E a página se preenche com volteios, letra após letra, palavra a após palavra, formando uma ideia, uma situação.

Já parou para imaginar o mundo como vivemos sem a escrita? Existiríamos até aqui? 

Seríamos, muito provavelmente, um dos muitos elos perdidos como são os nossos antepassados de antes ou sem a escrita, aqueles que pouca coisa conhecemos e o pouco que conhecemos são de longas suposições. 

Vejo a escrita como capaz de construir e erguer o universo que somos e que habitamos. Um modo de permanência no mundo. O verbo se nos fez e pelo verbo estamos. Permanecemos.

A escrita é ainda porto seguro para os que têm necessidade de desabafar. Toda vez que sentamos para escrever desenvolvemos uma relação de intimidade com o papel e nela podemos entrar em contato com o nosso próprio eixo.

Escrever, pois, seja o que for, nunca será perda de tempo. 

Agora mesmo estou prestes a concluir este texto. As palavras que estavam escondidas permitiram-me criar elos fazendo com que o vazio se preenchesse e uma pequena parte de minha própria história não se perdesse. O instante deste texto. 

Pela escrita permaneço vivo. A escrita é uma forma de eternidade.

*

(Estas notas agora publicadas datam de 13 de novembro de 2003. Pelo menos este foi o registro que encontrei quando dei com o texto ao revirar alguns papéis adormecidos na poeira destes anos. Depois desta post outras seguirão, provenientes do mesmo baú. Trago para este espaço como resgate e como registro).


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