As cidades invisíveis, de Italo Calvino

Por Pedro Fernandes


Algumas obras são sempre marcantes. As cidades invisíveis está entre elas. Não consigo (talvez pela minha limitação de ainda um leitor ingênuo) captar aqueles paradigmas elegidos pelo próprio Italo Calvino em Por que ler os clássicos (livro do qual só li a primeira parte), que possa inscrever esse título no rol do clássico (e clássico no sentido de obra-prima). Entretanto, não é este um livro comum. O escritor italiano usa de um experimentalismo de raio fantástico.

Depois da sua descoberta, fui dia desses à livraria e encontrei com o progresso da reedição completa da obra oferecida pela Companhia das Letras. E me lembrei outros dois importantes livros que li de Calvino (Seis propostas para o próximo milênio, numa roda de leitura que me serviu de introdução à obra desse autor). Recentemente (isso depois de sobejar as três primeiras páginas) coloquei mais um para a lista de leituras: chama-se Se um viajante numa noite de inverno.

As cidades invisíveis é dessas histórias em que a fantasia colore o real, ou como disse Jorge Luis Borges, em que a fantasia se revela parte no real. E o real, diga-se, só há de ter alguma graça se se deixar ser tingida por ela. Como personagem central da obra, o mercador Marco Polo; é ele ainda quem se põe a narrar ao imperador mongol Khan as cidades que visitara em seus périplos pelo Oriente.

Creio - com bastante ingenuidade, repito - que As cidades invisíveis se faz dos seis propósitos estabelecidos nas Seis propostas para o próximo milênio: a leveza, a rapidez, a exatidão, a visibilidade, a multiplicidade e a consistência. São 55 cidades ou por que não apenas uma projetada de ângulos de visão diferentes impressas no próprio conjunto do qual elas fazem parte: as cidades e a memória, as cidades e o desejo, as cidades e os símbolos, as cidades delgadas, as cidades e as trocas e outras cidades.

O diálogo que essa obra constrói será também com a noção de espaço, entendido este não como um traçado racional e geométrico, mas um espaço subjetivo, corpóreo, um signo produtor de elementos fundamentais à existência humana. Ou ainda a viagem como processo de composição da experiência.

Bom, há muito o que explorar nessa obra; o próprio escritor terá dito que As cidades invisíveis foi o livro que deve ter dito mais coisas: "será talvez porque tenha conseguido concentrar em um único símbolo todas as minhas reflexões, experiências e conjeturas".


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