A 18, encontro com José Saramago (I)



A iniciativa de congregar os leitores de Saramago em torno dos seus livros, propostas ou reflexões a cada dia 18, e fazê-lo cordialmente, com uma taça de vinho, com a alegria de saber-nos seus contemporâneos, nasceu de forma espontânea em Madrid e Lanzarote e de gente que lhe queria bem. Para lançá-la não pediram autorização a ninguém nem necessitavam de fazê-lo: celebrar Saramago e a sua obra dependerá da sensibilidade de cada leitor e os que puseram em marcha este projecto - obrigado Fernando Berlín, Olga Rodríguez, Juan Diego Bottos, Emilio Silva, obrigado, María del Río - demonstraram elegância e finura intelectual e, sem dúvida, elegeram a melhor fórmula porque a fizeram nascer de um livro, do coração de O ano da morte de Ricardo Reis. Brindar com uma taça de vinho em todos os continentes do mundo, falar de Saramago, ler umas páginas de qualquer livro, ser livres de preconceitos e de prisões, discutir com a liberdade que Saramago reclamava e fazê-lo de forma explícita aos dias 18 dos próximos nove meses é, sem dúvida, uma excelente maneira de dizer até logo. Até logo, porque adeus não diremos nunca a Saramago: se alguma vez isso ocorresse, se alguma vez por descuido dissermos "adeus, Saramago", viriam leitores para corrigir-nos e emendar-nos: falemos de Saramago no presente porque necessitamos dele e ele está presente. E cada dia que passa faz-nos mais falta.

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Do Brasil, o blog Letras in.verso e re.verso junta-se a este projeto e seguirá o itinerário com excertos da obra de José Saramago; a começar agora.

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"Dizemos aos confusos, Conhece-te a ti mesmo, como se conhecer-se a si mesmo não fosse a quinta mais dificultosa operação das aritméticas humanas, dizemos aos abúlicos, Querer é poder, como se as realidades bestiais do mundo não se divertissem a inverter todos os dias a posição relativa dos verbos, dizemos indecisos, Começar pelo princípio, como se esse princípio fosse a ponta sempre visível de um fio mal enrolado que bastasse puxar e ir puxando até chegarmos à outra ponta, a do fim, e como se, entre a primeira e a segunda, tivéssemos tido nas mãos uma linha lisa e contínua em que não havia sido preciso desfazer nós nem desenredar estrangulamentos, coisa impossível de acontecer na vida dos novelos, e, se uma outra frase de efeito é permitida, nos novelos da vida". 

José Saramago, em A caverna


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