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Mostrando postagens de agosto, 2010

As palavras de Saramago, de Fernando Gómez Aguilera

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Único escritor de língua portuguesa a ganhar o prêmio Nobel, José Saramago (1922-2010) é um exemplo perfeito do intelectual engajado preconizado pelo autor de As palavras , Jean-Paul Sartre. Com efeito, a intervenção na esfera pública, o comprometimento com uma visão crítica do mundo, a defesa de ideias muitas vezes polêmicas, a indignação diante das injustiças e desigualdades econômicas e sociais são características marcantes de alguém que jamais separou o escritor do cidadão e sempre disse com todas as palavras o que pensava. Este livro, editado por Fernando Gómez Aguilera, biógrafo espanhol de Saramago, traz uma ampla seleção de declarações do escritor extraídas de jornais, revistas e livros de entrevistas, publicados em Portugal, no Brasil, na Espanha e em diversos outros países, da segunda metade da década de 1970 até março de 2009. Os textos estão organizados cronologicamente no interior de núcleos temáticos que abrangem as questões mais recorrentes nas manifestações do

Mais dez filmes que contam sobre a vida de escritores

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As vantagens das listas é que são não apenas guias mas uma estratégia de reunir num só lugar algumas aproximações sobre determinadas obras (se for o caso delas) que levariam longo tempo para apresentá-las uma a uma. Em dezembro de 2009 (ver o final da post) copiamos uma delas com onze filmes sobre a vida, ou algum aspecto da vida, de escritores; sobre este tema é possível que voltemos outras vezes, assim como fazemos agora. Por enquanto, fica, para apetite dos leitores, mais esses dez títulos cujo interesse é ainda o mesmo do ano anterior. O mistério de Agatha , 1979. O mais antigo filme desta lista reconstrói um dos episódios mais interessantes da pacata vida de Agatha Christie. Depois de descobrir que estava sendo traída, a escritora pede o divórcio e sai de casa. O que ninguém esperava é que esta saída representasse um sumiço de quase duas semanas que parou todo o Reino Unido através da imprensa que tentava bisbilhotar o que havia se passado com a Rainha do Crime. Investigações

As sete últimas palavras de Cristo na cruz, por José Saramago

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Bosch. Cristo carregando a cruz (detalhe). Em 2007 a gravadora AliaVox editou a gravação de As sete últimas palavras de Cristo , de Joseph Haydn (1732-1809) pela Orquestra Le Concert des Nations; a pedido de Jordi Savall, diretor, maestro e compositor, José Saramago escreveu parte dos textos que compõem o catálogo do CD. Este é um dos últimos textos do escritor português, executado depois do árduo trabalho de pesquisa em que retoma fios do seu O Evangelho segundo Jesus Cristo . O texto não é uma explicação do trabalho do compositor austríaco, mas um acréscimo. O trabalho de Haydn   foi composto por encomenda do Arcebispo de Cadiz para a Sexta-feira da Paixão de 1785 e mescla tragédia e melancolia ao sublime e à misericórdia a fim de recuperar certa natureza humana de Jesus, algo que se reveste, perfeitamente, no evangelho de Saramago. Palavra Primeira Deus, Pai, Senhor, aqui me tens. Aqui me tens, finalmente, neste monte escalvado a que chamam Gólgota e aonde, passo a

A origem, de Christopher Nolan

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Por Pedro Fernandes Caprio em grande forma em A origem , isso depois de uma outra estreia singular no cinema, Ilha do medo , de Martin Scorcese Até hoje Ilha do medo , de Scorcese era, para mim, o melhor filme de 2010. Perdeu seu posto para A origem , de Christopher Nolan. O filme é primoroso e retoma no espectador seu estágio de inteligência constantemente solavancado por bestiliades que varrem as telas do cinema de cabo a rabo no mundo. O enredo é simples; pode ser resumido em poucas linhas. Um ladrão de sonhos, Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) é contratado para plantar uma ideia no inconsciente de um homem. Pronto está feito o nascimento de um enredo labiríntico e complexo que exige de nós olhos abertos a cada virar de cena. Misto de sonho e realidade, o filme se apodera de questões caras à psicanálise, à física, à filosofia e sobre a própria técnica do fazer cinema. Para Nolan isso tudo posto à prova não é novidade. O diretor vem aperfeiçoando sua técnica de manipulação d

Por um Rio Grande do Norte de Leitores

Por Pedro Fernandes A literatura é o maior bem simbólico da humanidade; a invenção mais sofisticada e coerente que a humanidade, ao longo de desastrosas outras invenções, pode criar. Pela literatura - que é arena onde se configuram todos os discursos - se é capaz de erguer a educação e a formação crítica dos sujeitos perante os discursos cerceadores da existência humana. Notadamente alcançamos um patamar sócio-econômico bastante singular para a história de desastres que passamos nas últimas décadas. Entretanto, há patamar ainda difícil de mudar a cara que o alto índice de analfabetismo, apesar da leva de projetos e de programas de educação voltados para a queima desse status. Noutra margem o índice de analfabetos funcionais é também outro patamar crescente no País. Lemos mais, é verdade, mas continuamos sem entender bem para quê lemos e o que lemos. O problema não pode ser tido somente como uma causa política, é também uma causa social e de responsabilidade de todos - principa

Federico García Lorca

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No dia 19 de agosto de 2010 fechou os 74 anos sem Federico García Lorca. O poeta nascido numa vila da Andaluzia foi, sem julgamento,  executado com um tiro na nuca pelos nacionalistas; seu corpo foi jogado (dizem uns) num ponto da Serra Nevada, mas até hoje nunca encontrado, apesar das várias tentativas ensaiadas de, com base em documentos, se fazer uma busca sobre. A morte do poeta catalão é signo da loucura humana; daquela que é capaz de matar apenas pelo prazer de matar e pela impossibilidade de aceitar o outro como diferença. O crime teve repercussão em todo o mundo e longe de querermos transformar um escritor num mártir (e sabemos que ele não teria essa vocação) inscreve-se nos anais da literatura como representação sobre o poder de incômodo da palavra. Se o calaram, mas não conseguiram calar sua poesia, que, não pela tragédia mas pela qualidade expressiva é também repercussão ao redor do mundo. A poesia de Lorca e todo o seu trabalho artístico (foi também um homem vers

Concurso Uma página para Saramago

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Até o dia 30 de novembro de 2010 , o Caderno-revista 7faces está com chamada aberta para publicação de uma edição acadêmica cujo interesse está em refletir acerca da produção poética de José Saramago. Até o lançamento da ideia, estou preparando uma série de outros trabalhos comemorativos – virtuais e/ou físicos, para homenagear o escritor. Um desses trabalhos, além dessa edição especial da 7faces , é o minicurso Diagnósticos do presente em José Saramago, Chico Buarque e Jorge Reis-Sá, que será ofertado por ocasião do I Colóquio Nacional de Estudos Linguísticos e Literários, de 6 a 8 de outubro de 2010, no Campus Avançado Profa. Maria Elisa de Albuquerque Maia. Hoje, ponho em órbita mais uma novidade. Trata-se de um concurso de textos Uma página para Saramago . 1. O concurso é aberto somente a leitores saramaguianos em língua portuguesa, que devem participar com textos sobre/para o escritor português. É gratuito; os interessados devem preencher ficha de inscrição, redi

A 18, encontro com José Saramago (II)

Iniciativa posta ao ar desde o último dia 18; todo 18 de cada mês durante noves meses leitores saramaguianos do mundo inteiro reúnem-se para ler um fragmento de sua obra e brindá-lo com uma taça de vinho. Este blog segue a iniciativa. O fragmento que leio hoje é do Levantado do chão , aquele que fala do dia em que todos - os vivos e os mortos - largam seu estágio de curvatez e seguem em liberdade. Aproveito ainda para lembrar de duas outras homenagens que preparo ao escritor: uma é o minicurso Diagnósticos do presente em José Saramago, Chico Buarque e Jorge Reis-Sá , que irei ministrar por ocasião do I Colóquio Nacional de Estudos Linguísticos e Literários que irá ocorrer entre os dias 06 e 08 de outubro na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - Campus Avançado Profa. Maria Elisa de Albuquerque Maia; e outra é a edição especial do caderno-revista 7faces que preparo em homenagem ao escritor. Outras novidades estão a caminho e breve serão divulgadas por este espaço.

Os últimos escritos de José Saramago

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"Sim, será publicado. Creio que é um texto maravilhoso, cheio de humor, com uma profundidade e uma carga que merece que seja publicado. Mas não é um livro porque não ainda estava acabado. Não vamos enganar ninguém." O anúncio foi feito no último dia 8 de agosto por Pilar del Río, companheira do escritor em entrevista a João Céu e Silva. O texto que, segundo ela, não deve ultrapassar as 50 folhas ainda não foi apresentado a nenhuma editora e ainda não tem data específica de quando será publicado. Perguntada sob o espólio de correspondências de José Saramago, Pilar comenta: "Isso poderia ser um trabalho para cinco teses de doutoramento, pois a quantidade de cartas que lhe foram enviadas é impressionante." E revela que o que será publicado muito em breve "será uma recolha de alguns artigos que se escreveram em torno da sua morte. Será intitulado Palavras para Saramago e é uma selecção de artigos de colegas do meu marido, escritores de todo o mundo.&quo

King Kong, de Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack

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Para as gerações que cresceram jogando videogame, acostumadas com os mais modernos efeitos especiais e trabalhos de computação gráfica, a versão original de King Kong  deve parecer boba, infantil e sem graça. Mal pode-se imaginar o furor que o filme causou nas plateias no seu lançamento, em 1933. Os cinemas literalmente tremiam com os gritos do público. O longa arrecadou o recorde de US$ 90 mil de bilheteria apenas na primeira semana de exibição nos Estado Unidos. O sucesso ajudou a produtora RKO a escapar da falência. Se hoje o gorila criado em processo básico de animação pode parecer precário, para a época era um fenômeno de tecnologia, um marco dos efeitos especiais (os modelos criados para representar o monstro tinha apenas 40 centímetros). Na conhecida história, a criatura é levada a Nova York por uma equipe de filmagem, apaixona-se por uma atriz (Fay Wray) e foge, promovendo o medo. O desfecho, com Kong escalando o Empire State, maior prédio do mundo na época, é dos ma

Na escrita, alguns empecilhos, pedras, pedregulhos no caminho

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Por Pedro Fernandes E são muitos. Os empecilhos, as pedras e os pedregulhos. Mas dizem que com eles é que se constrói tudo. Vamos ver. Ainda não tem cara de gente, mas já é um embrião o que ainda chamo de ensaio acadêmico, matéria para a concretização do estudo cunhado para a dissertação de mestrado. A pesquisa, entretanto, parece haver encalhado num lugar algures que ainda não consegui precisar seriamente qual é. Um massapê. Talvez seja apenas uma dessas falhas capazes de nos acometer durante o gesto da escrita, sempre identificada como um processo um tanto doloroso. Além disso, a rotina que mantinha de escrever (sim, a escrita é uma tarefa que exige de quem a executa uma rotina) esteve baldeada por outras obrigações. Pensar nunca é coisa barata e exige foco e determinação porque sempre a caminhada lenta e o tempo é curto - ou seja, estamos lidando com linhas de força opostas. E a única solução já experimentada por outros e agora por mim é de dá espaço para que o próprio

Sobre literatura e seus usos práticos

Por Pedro Fernandes É esse o nome do minicurso que ministrarei por ocasião do VII Colóquio Nacional de Professores de Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e de Literatura (VII CMELP), entre os dias 12 e 13 de agosto próximo. A ideia para elaboração deste trabalho surgiu quando de uma disciplina cursada no Mestrado e evidentemente da leva de produções colocadas no lastro das discussões sobre o tema hoje. O minicurso estará dividido em duas sessões de 4h cada cujo debate deverá circular em torno de dois grandes temas relacionados sobre questão da relação literatura-ensino. Não será um cardápio de como se ensinar literatura porque ao meu entender uma pedagogização da literatura é ato falho, assim como também não deverá ser roda de conversa para lamentações acerca dos rumos a que a disciplina Literatura tem tomado. Espera-se conduzir as discussões por questões mais amplas que estas, questões que tenham a ver com a relação entre Literatura e materialidade vivida e do entendimento

Operação França, de William Friedkin

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Dois policiais, Jimmy "Popeye" Doyle (Gene Hackman) e Buddy "Cloudy" Russo (Roy Scheider), descobrem uma enorme operação de tráfico de heroína em Nova York, organizada por um galante vilão, o francês Alain Charnier (Fernando Rey). Operação França  é um thriller policial sem mocinhos.  Enquanto corre atrás dos traficantes, entre tiros, facadas, muita ação e suspense, o detetive Doyle, representante da lei, mas também violento, passará por cima da ética para pegar o criminoso. Baseado em fatos verídicos, o filme foi entendido por parte da audiência como denúncia da violência tanto de criminosos quanto da polícia. No cartaz de divulgação, inclusive, lia-se "Doyle não é boa notícia, mas é um bom policial". A grande sequência do longa, a da perseguição (entre um carro e o trem do metrô), ficou marcada como uma das mais impressionantes do cinema. Para filmá-la, Friedkin utilizou o tráfico da cidade, com transeuntes reais e o próprio Gene Hackman d

Outros itinerários para o Dom Quixote

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O itinerário novo do Quixote é a web . O anúncio veio da Real Academia de Língua Espanhola e da Plataforma de vídeos YouTube. Ambos se aliaram para realizar uma leitura mundial do Dom Quixote , de Miguel de Cervantes,   através de vídeos postados por internautas do mundo todo. A ideia foi apresentada por Darío Villanueva, diretor da Real Academia, em Madri. O romance foi divido em 2.149 trechos que estarão à disposição dos internautas que quiserem lê-los, gravar e depois postar o vídeo no YouTube. A condição é de que a locução seja feita em espanhol. Os interessados devem acessa  aqui , para receberem um trecho da obra. A partir do momento que o leitor tiver o trecho, disporá de seis horas para fazer o upload de seu vídeo ou, caso contrário, seu trecho será repassado para outra pessoa.

O texto por trás do texto

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Em 11 de julho de 2010, o c aderno Domingo, do j ornal De Fato, publicou matéria sobre o escritor português José Saramago. Pela ocasião, escrevi um texto que funcionou como material para a escrita dessa reportagem. Dado o silêncio de vários outros jornais pelo texto que escrevi, resolvi, hoje, publicá-lo por este espaço. Esta matéria deveria ser uma grande homenagem que deveria render ao escritor. Infelizmente o silêncio de outros jornais e o interesse avesso do j ornal De Fato em não publicar o texto na íntegra me deixaram cabisbaixos. Digo apenas que uma série de programas estão sendo pensados alguns e preparados outros em homenagem à memória do escritor português, dentre elas, reitero o número especial do Caderno-revista 7faces que será dedicado à poesia do escritor e que segue aberto até o dia fim de novembro próximo o envio de materiais para a edição. Há ainda o minicurso "Diagnósticos do presente em José Saramago, Jorge Reis-Sá e Chico Buarque", que irei ministrar po

José Saramago, leitor de Ray Bradbury

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“Talvez os livros possam nos tirar um pouco dessas trevas. Ao menos poderiam nos impedir de cometer os mesmos malditos erros malucos!” — Fahrenheit 451 , de Ray Bradbury. Ray  Bradbury ajudou a sedimentar todo um imaginário sobre a vida extraterrestre, sobretudo em Marte. Exemplo notável são suas Martian Chronicles . Seja pela época, quando os olhares se voltavam surpresos pela corrida astronômica, seja pela formação deslumbrada e irregular do leitor autodidata, José Saramago manifestou apreço pela chamada ficção-científica. Numa crônica de Deste mundo e do outro , “Um azul para Marte”, o escritor português se mostra envolvido por esse tratamento e escreve ele mesmo sua crônica marciana . Este texto integra um conjunto de crônicas reunido no livro antes citado com ars da ficção científica: “Os animais doidos de cólera”, “O planeta dos horrores” e “Um salto no tempo” são alguns deles. Isso não é uma justaposição. Noutro texto recolhido neste livro, “Cada v

Diário de Bordo

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Por Pedro Fernandes Tenho pensado neste quadro de René Magritte para o início do primeiro capítulo da dissertação. Gosto de dialogar com algum ponto para se construir uma determinada reflexão, mesmo que seja um ponto teórico. Mas, entre este e uma tela, darei preferência à segunda. Porque só assim fica permitido que a existência do que eu poderia chamar de reflexão autêntica , sem está aleijado pela repetição da voz alheia, é possível. Claro que no curso da construção desse diálogo o espírito teórico irá aparecer como malha de reforço, ou questionamento, ou ainda ampliação das reflexões. Sei que piso nesse território movediço do pensamento acadêmico e não posso ignorar as vozes que vieram antes de mim sob o risco de depois ser acusado de dizer o óbvio ou o senso comum. Mas essa constatação da relação escrita outro suporte  que não o da teoria, é tão fundamental para o que irei escrever que deverei adotar como elemento norteador na construção integral do texto: cada capítulo

A obra de José Saramago no cinema

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Por Pedro Fernandes Cena de Ensaio sobre a cegueira , a melhor adaptação de uma obra de José Saramago para o cinema. Perfazendo um caminho pelas sendas do plano virtual motivado por quatro textos de José Saramago que até agora ganharam adaptação para as telas do cinema   ( A jangada de pedra , Ensaio sobre a cegueira , A maior flor do mundo   e o recente O embargo ) ,  descubro o quanto o escritor português mantém uma relação sólida com outros meios artísticos. Sim, porque além das produções cinematográficas perdemos as contas sobre as adaptações de sua obra para o teatro, a dança, as artes plásticas e outras manifestações artísticas.  Pensei esta página para ser além do registro desses primeiros filmes, um aberto repositório capaz de receber o que estiver ao meu alcance e enquanto este blog viver, isto é, poder acrescentar sempre as próximas adaptações e minhas impressões sobre elas.  No final desta post, deixo um link para deixá-lo a parte dessas adaptações ou maneiras out