Notas sobre o II Festival Literário da Praia da Pipa (FLIPIPA)

Por Pedro Fernandes

Vista da Praia da Pipa

A

O visor do celular marca-me 8h da manhã. Era essa a hora que eu partia, no dia 18 de novembro, para uma das praias mais badaladas do litoral do Rio Grande do Norte. Praia batizada há muito, ainda pelos anos de mil e quinhentos e tanto, dado o formato de uma das falésias ser o de uma pipa (falésias, aliás, que povoam toda a praia). A praia tornou-se o destino turístico de todo aquele que vem a Natal. Vir a Natal e não ir a Pipa, não veio a Natal. Conhecida por além das belezas naturais, pela intensa noite, os dois elementos juntos só poderia culminar num espaço para promoção cultural. E se o tom salobre do mar e o calor do sol não são ingredientes para, dentro da cultura, a inserção da literatura, a ideia desfez-se. Pipa é já espaço ideal, justamente por estas características, para agregar discussões literárias. Em 2009, realizou-se o I Festival Literário da Pipa. Na agenda do evento, nomes importantes, como o da escritora Nélida Piñon. Se todas falas entoaram louvores ao primeiro ano do evento, no segundo ano, as expectativas se renovam. Redobram-se, na verdade. Dois anos seguidos de um festival, se confirma a sede por encontros dessa natureza no estado.  

B

Entro pela rua principal de Pipa, a Avenida dos Golfinhos, sob o sol belíssimo. Hospedaria: Albergue da Rose. Ponto de encontro da diversidade de línguas. Digo isso pela frequência com que encontramos com franceses, italianos, holandeses pelas corredores do albergue (encontramos, sim, eu estava com a amiga de mestrado, Janaina, a autora da foto a seguir e os poucos registros que conseguimos com celular). Referendo o espaço para quem procura ou gosta de lugares descolados. Dia de praia, evidentemente. Pipa tem uma energia que não lhe deixa ficar, como se diz por aqui, amofinando em casa. Pipa tem uma energia que impulsiona à vida. Pena é o dia ter apenas vinte e quatro horas. É pouco para vivenciar o lugar. Mas, ainda assim, pondo-se as vinte e quatro horas sem parar pode-se experienciar muito. E guardar sensações para serem revividas noutras vezes, mesmo que noutras vezes as sensações serão sempre outras sensações.

C

O encontro com Mia Couto.

19h. Visita básica aos estandes e o reencontro com algumas figuras, como a da professora Conceição Flores, às vésperas de presidir a sessão mais esperada do evento: a mesa com o escritor moçambicano Mia Couto. Aproveito nos estandes para adquirir O fio das missangas. E eis quem encontro, uma meia hora depois, quando estou de saída do estande do Sebo Vermelho, com o próprio Mia. Fotos. Duas palavras para parabenizar o escritor pela obra. Um autógrafo. A noite começava em bom tom; devo ter feito bem o papel de tiete.

D

E veio a fala do Mia Couto. No segundo dia, Marçal Aquino e Frederico Pernambucano. Marçal ficou-me marcado pelo tom pessimista, mas divertido com que conduziu sua fala. Frederico Pernambucano pelo tom de profundo conhecedor do Cangaço. Mesmo eu não me interessando em nada por este tema, fica-me o exemplo, do que a pesquisa séria e comprometida é capaz para o entendimento de nós próprios. 

No terceiro dia, eis que chega os outros dois momentos, dos três mais esperados do evento. As mesas com João Gilberto Noll e com João Ubaldo Ribeiro. Noll encantou-me pelo tom com que encarnou seus textos - em vários momentos que se dispôs  a ler trechos de sua obra. João Ubaldo pelo prosaísmo com que conduziu sua fala no evento, desmistificando muitos dos castelos de ilusões que os leitores geralmente fazem dos escritores - principalmente quando se pôs a comentar sobre o destino dos seus dois Jabutis: um, como escora para a porta do banheiro, outro, perdido nas muitas mudanças.

E

O FLIPIPA correspondeu-me em todas as expectativas. Era esperado ser um evento de grandes papos, grandes trocas. De ideias. E foi. Sempre digo que discutir literatura por quem faz da literatura ofício é, sim, a melhor forma de se entender literatura. Guardadas as devidas proporções de tal afirmação - o escritor muitas vezes peca em ser crítico de si próprio - mas, em sua grande maioria lança-nos possibilidades outras não de uma leitura de si, mas de uma leitura do mundo em que ele se situa. 

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