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Mostrando postagens de julho, 2014

O fazer poético na "Resma", de Lívio Oliveira

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Por Thiago Gonzaga                     “Mundo mundo vasto mundo mais vasto é meu coração”. Carlos Drummond de Andrade Atualmente, qualquer pessoa que esteja atenta ao mercado literário local intui que a poesia ainda é a vertente que mais se distingue na literatura potiguar, não apenas pela grande quantidade de poetas, mas pela superior qualidade de alguns, que vêm se destacando há anos, dignos de figurarem numa antologia nacional.  Acredito, por ser leitor e estudante de poesia,  que a poesia feita no Rio Grande do Norte continua viva e ativa; organizam-se saraus, leituras de poemas, encontros com poetas, surgem novas revelações poéticas. No entanto, há poetas e poetisas que se sobressaem em meio à avalanche de livros publicados no Estado. Dentre estes, cito Lívio Oliveira, que penso ser o melhor representante masculino da nova geração poética potiguar, neste início de século; já com cinco livros de poemas publicados e todos indiscutivelmente de qualidade art

Um discípulo para Stephen King

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Por Jana Lauxen Admito que não sou fã número um de histórias sobrenaturais. Provavelmente por que a maioria delas explore indiscriminadamente (e de modo superficial) o horrível, o bizarro e o nojento, mais pregando sustos desnecessários do que instigando legitimamente nosso medo. É fácil chocar apresentando uma cena de tortura extremamente realista. É simples horrorizar descrevendo detalhadamente canibais devorando criancinhas indefesas. Mas conseguir chocar e horrorizar sem apelar para o sensacionalismo violento e gratuito, já é outro departamento. Não é para quem quer; é para quem sabe. Por esta razão tenho grande admiração pelo escritor Stephen King. Em minha opinião, ele sabe como manipular nossos medos mais intensos com maestria, pois detém a medida exata do terror, que nunca falta e nem sobra em suas obras. Não por acaso, seus livros são incansavelmente transpostos para o cinema, como é o caso do clássico O Iluminado – um filme pouco chocante, mas genuinamente

Chico Buarque: artista e pensador

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Por Rinaldo de Fernandes Chico Buarque tem uma profunda identificação com o Brasil. Suas letras, seu teatro, seus romances reimprimem importantes interpretações críticas do país. Estão entre os protagonistas do compositor os pivetes, os malandros, os sem-posse. Aquilo que constitui, efetivamente, a ‘negatividade’ da sociedade brasileira. Para Chico, especialmente em suas composições dos anos 70, a negatividade da vida brasileira é produto ou atributo da política, passa pelos poderosos de plantão. Iníquos lhe foram todos os governos militares, calando, torturando, matando. Governos que encontraram no compositor de “Apesar de você” e de “Cálice” uma voz incisiva, intrépida. Uma voz que afrontava a “mentira” e a “força bruta”. Chico, por outro lado, é um pensador da condição feminina. Quando retrata as ‘resignadas’ ou ‘recolhidas’ no universo doméstico, caso de “Cotidiano” e “Mulheres de Atenas”, é mordaz, ironizando a submissão ou o papel de esposa na família de base p

O mapa da tribo, de Salgado Maranhão

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Por Iracy Conceição de Souza capa da edição de O mapa da tribo  (editora 7Letras) ouço ladrar uma ausência Que me rasteja: loba. Salgado Maranhão A poética salgadiana, ao longo dos últimos anos, construiu um perfil que se solidifica em sua décima obra, O mapa da tribo . Concebê-la é duplicar continuamente os espaços por ela construídos: “um oceano insondável”, que movimenta os afetos e incentiva o labor. Se o livro, Punhos da Serpente , (1978) marca o início de sua trajetória e sinaliza o estilo e a singularidade, para além do saber fazer, da habilidade; a obra, A pelagem da tigra , procura extrair e filtrar os meandros mais complexos da autenticidade sensível da vida, os ecos enigmáticos das entranhas do interdito, para expô-la em cenários reconstruídos e a obra, Sol sanguíneo (2002) ou Blood of the sun , (2012) 1 marca a experiência, o limiar do raso e do profundo, onde as coisas não somente têm significações, mas também têm existências e, por isso mesmo, o

Boletim Letras 360º #73

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Ariano Suassuna por Edu Magalhães Não vamos contabilizar perdas. Ao que parece a morte gosta delas. Além disso, já muito se tem contado. As Letras brasileiras, entretanto, atravessam ainda o luto pela morte Rubem Alves e de Ariano Suassuna. Fique o registro que novamente este Boletim abre-se negro. A boa nova, bem a boa nova vem das notícias que estão a seguir, entre elas a chegada do romance deixado por José Saramago. Boas leituras! ESTAMOS SEM RUBEM ALVES “Um livro são pedaços de mim espalhados ao vento como sementes” Pedagogo, poeta, filósofo, cronista, ensaísta, teólogo, acadêmico, palestrante, autor de livros para crianças, psicanalista - contador de histórias, como se definiu certa vez. Rubem Alves no dia 15 de setembro de 1933, em Boa Esperança, no Sul de Minas Gerais. Tido como uma das principais referências no pensamento sobre educação, tem uma bibliografia que conta com mais de 160 títulos distribuídos em 12 países. O educador mantinha em Campinas, cida

Ariano Suassuna por Ariano Suassuna

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Ariano Suassuna. Foto: Fred Veras (detalhe / reprodução) A paixão pela leitura “Eu comecei pela literatura, querendo ser escritor aos 12 anos de idade. Assim que me alfabetizei, senti a paixão pela leitura. Meu pai tinha deixado uma biblioteca, coisa que não é comum no sertão. Ele era um grande leitor, tinha uma memória prodigiosa, gostava de poesia popular, como eu. Um dos livros de Leonardo Mota, importante pesquisador do cancioneiro e dos cantadores, eu encontrei na biblioteca de meu pai. Era Sertão alegre, foi dedicado a seis pessoas e uma delas era meu pai. Meu pai deu vários versos a ele. Eu tive primeiro a experiência com a biblioteca do meu pai, da qual ainda tenho alguns exemplares. E não por acaso, os três folhetos que me baseei para fazer o Auto da Compadecida , estão todos três lá. Depois meus irmãos, que já estavam no Recife, começavam a levar livros quando ia passar as férias em Taperoá. Comecei a ler romances ilustrados e romances de aventura. Um deles o Escaram

Até breve, Ariano

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Por Pedro Fernandes 1. “Cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que vivo, morre” – a passagem é de Auto da compadecida , de Ariano Suassuna. 2. Sim, a morte é o único destino para o qual todos os seres se encaminham. Todas as explicações até hoje construídas em torno do termo são mera especulações. Mas um sentido se cumpre como verdade: perdas são perdas. E o que dissermos não substituirá o vazio delas porque cada ser é único. Talvez momentos dessa natureza devessem se cumprir sem quaisquer estardalhaços, apenas com o silêncio, condição que nos aproxima do sentido da perda e sobre nossas limitações no mundo. Mas, perdas insuportáveis como estas têm de vir mais que um nó na garganta; tem de vir a lágrima vertida pela palavra. 3. Quando José Saramago morreu numa data assim próxima

A lista de leituras de Ariano Suassuna

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Ariano Suassuna numa de suas viagens. Recentemente um foto do gênero tornou-se viral na web , mas a prática há muito que já era comum do escritor: descansar para uma leitura. Registro do livro O decifrador , do genro Alexandre Nóbrega. Que obras estão na estante de um escritor ou lhe servem como espaço de construção de sua obra ou mesmo lhe serve ao deleite? Todo escritor terá suas obras prediletas seja qual for a especificidade da lista. Para o livro  Ariano Suassuna, um perfil biográfico  publicado pela Zahar Editora, de Adriana Victor e Juliana Lins, o próprio Ariano escreveu uma lista de obras da literatura, brasileira e mundial, que influenciaram a sua formação de escritor. São mais de 43 livros que vão desde as primeiras leituras aos 17, 18 anos. A ordem é cronológica: "do menino de Taperoá ao jovem estudante do Recife". Trata-se de uma lista um tanto extensa se pensarmos em algumas que já colecionamos por aqui, mas um itinerário fabuloso do escritor de Auto da

Carta para Ariano

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Por Matheus Nachtergaele   Em cena de O auto da Compadecida  Selton Melo e Matheus Nachtergaele na pele dos eternos Chicó e João Grilo. Filme de Guel Arraes (2000) baseado na peça de Ariano Suassuna. Foto: Rede Globo. "Quem te escreve agora é o Cavalo do teu Grilo. Um dos cavalos do teu Grilo. Aquele que te sente todos os dias, nas ruas, nos bares, nas casas. Toda vez que alguém, homem, mulher, criança ou velho, me acena sorrindo e nos olhos contentes me salva da morte ao me ver Grilo.  "Esse que te escreve já foi cavalgado por loucos caubóis: Por Jó, cavaleiro sábio que insistia na pergunta primordial. Por Trepliev, infantil édipo de talento transbordante e melancólicas desculpas. Fui domado por cavaleiros de Sheakespeare, de Nelson, de Tchekov. Fui duas vezes cavalgado por Dias Gomes. Adentrei perigosas veredas guiado por Carrière, por Büchner e Yeats. Mas de todos eles, meu favorito foi teu Grilo. "O Grilo colocou em mim rédeas de sisal, sem forçar