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Mostrando postagens de setembro, 2014

Adonis

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Adonis não crê em Deus, mas vive próximo do céu, numa torre de 37 andares da La Défense, o bairro financeiro de Paris. Não parece o ambiente típico para um poeta. Antes de se instalar no apartamento passou por quase todos os bairros. Vive na cidade francesa há quase três décadas. Para o poeta o lugar é mais iluminado; lembra-lhe Manhattan – logo quem escreveu Epitáfio para Nova York , publicado em 1971 e um dos livros mais famosos de um nome já traduzido em dezenas de línguas e que muitos consideram o grande poeta árabe vivo. Numa entrevista ao El País recentemente, Adonis segue firme em sua crítica ao capitalismo desumanizado e desumanizador, homenageia García Lorca e Walt Whitman, fala sobre a queda das torres gêmeas e relembra a acusação que sofreu de que o poema teria inspirado a Bin Laden. Acusação que para o poeta é ridícula. Seu último livro, Zócalo , foi publicado em francês antes que em árabe. E mesmo antes de chegar à sua língua será apresentado em espanhol. São t

Uma abelha na chuva, de Carlos de Oliveira

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Por Pedro Belo Clara Considerada pela crítica competente, sem desaguisados de maior, um dos trabalhos mais emblemáticos de Carlos de Oliveira, a presente obra foi dado aos prelos no já distante ano de 1953 e comprovou, com a devida propriedade, a extrema aptidão do autor para o estilo novelístico. Se é verdade que Oliveira iniciou a sua carreira literária através da poesia, género de que nunca abdicaria, para o leitor mais comum a faceta de romancista é a que mais sobressai em termos de divulgação ou de conhecimento geral. Contudo, afirmar que foi nela que o dito autor demonstrou todo o seu supremo talento é, efectivamente, redutor.  Convém aqui recordar que Oliveira foi um dos destacados vultos do neo-realismo português, levando-o até, segundo a opinião de muitos estudiosos, a terrenos que nenhum outro jamais ousara pisar, o que sublinha a extrema originalidade da sua voz. A tal aspecto acresce, quase subsequentemente, o cariz regionalista que viria a imprimir na maio

Boletim Letras 360º #82

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Jack Keroauc e os textos da adolescência. Leilão recupera inéditos do escritor. Chegamos ao fim de mais uma semana e estamos já a mil para a semana vindoura! Sim, a gente não para. Mas, tenhamos calma. Hoje, sábado, é a vez de voltarmos ao que foi notícia durante a semana lá em nossa página no Facebook, sempre cheia de novidades e que aguarda sua visita. Basta um clique ao lado direito da tela. Vamos lá? Segunda-feira, 22/09 >>> Estados Unidos: Inéditos de Jack Kerouac antes de ser Jack Kerouac O material apresentado por esses dias vai a leilão em novembro pela Casa Skinner. São 17 cartas, dois cartões postais e sete fragmentos de texto. Entre os aquivos estão correspondências particulares trocadas entre Kerouac e o amigo da juventude Apóstolos no final dos anos 1930 e começo de 1940. Nelas, Kerouac faz menção a velhas aventuras colegiais, a saudades de sua casa em Lowell e descreve suas descobertas sociais, bebedeiras, festas e experiências com garot

Cartas de Nabokov para sua mulher

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Vladimir Nabokov e Véra, sua futura companheira, em Berlim, 1954. Era início de maio de 1923. A comunidade de imigrantes russos de Berlim realizava o baile da caridade. O jovem poeta Vladimir Sirin foi abordado por uma mulher vestindo uma fantasia de arlequim preto. Ela encantou-se por ele recitando versos de cor. E depois do baile vagaram pelas ruas da cidade até tarde da noite, um encantado com o outro. Esta é uma das muitas histórias que contam de como Vladimir Nabokov e Véra Slonim se conheceram: um disfarçado por um pseudônimo, o outro por uma máscara. Nabokov partiu para o sul da França logo depois desse encontro. Foi trabalhar como agricultor com a esperança de que o trabalho duro viesse aliviar o seu sofrimento: seu pai, um democrata, tinha sido assassinado no ano anterior ao tentar proteger um rival político da morte. Junto com a perda do pai foi consigo a imagem da noite em Berlim. Na França, ele escreveu um poema sobre o encontro com essa mulher mascarada e mi

Truman Capote, viagem à origem trinta anos depois de sua morte

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Por Winston Manrique Sabogal O jovem Truman Capote Dizem que as luzes de sua fama logo cedo e o êxito o obnubilaram. Contam que depois de contribuir abrindo um caminho importante na forma de abordar determinados temas e escrever jornalismo ele se perdeu. Asseguram que Truman Capote viveu mais do passado e da promessa de futuro que do presente onde vivia. Eu creio que ele sempre foi aquele menino nascido há 90 anos em Nova Orleans, em 30 de setembro de 1924, que jogando sozinho com a vida ansiava que alguém aparecesse para convidá-lo a jogar. É então quando seus sentidos aprendem a ver a escutar o mundo, a esquadrinhar a vida, a alma humana, e a buscar ou imaginar diferentes saídas para o que nem todo mundo vê ao primeiro lance de vista. Capote não inventou o chamado Novo Jornalismo, mas contribuiu com sua divulgação, inclusive o batizou, e com o sucesso de obras como A sangue frio (um livro que lhe marcou durante toda sua vida, para bem e para mal). Tampouco inve

Murilo Mendes

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O nome não está às escondidas ou esquecido dos leitores; uma rápida pesquisa pela web apresenta-o com certa facilidade e traz alguns dos seus poemas mais conhecidos. Possivelmente, quase todo estudante da educação básica terá se deparado com os versos de “Canção do exílio”, uma releitura de muitas do poema homônimo de Gonçalves Dias. Murilo Mendes é contemporâneo de nomes como Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto – esses tornados quase affairs dos leitores de idade diversa, conhecedores ou não de sua obra. O primeiro mais que o segundo: basta ver a quantidade de citações verdadeiras e falsas que alimentam as redes sociais. “Nasci oficialmente em Juiz de Fora. Quanto à data do mês e ano, isto é da competência do registro civil. Não me vi nascer, não me recordo de nada que se passou naquele tempo. Na verdade, nascemos a posteriori. No mínimo uns dois anos depois. Mesmo porque, antes era o dilúvio.” – assim inicia Murilo Mendes suas memórias em A idade d

A pintura de D. H. Lawrence

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D. H. Lawrence e a dedicação à pintura.  Não é fácil imaginar que D. H. Lawrence jamais voltará a ser lido com a paixão e o reconhecimento depositado pelos leitores de há 40 anos, quando sua guerra cultural contra o puritanismo britânico ainda não havia sido ganha. Guerra que era contra a Inglaterra morta do pescoço para baixo, contra uma cultura que negou insistentemente a força da vida, uma cultura que esteve sempre revoltada com a própria natureza do corpo. O legado puritano envenenou todo o século XX; instituiu o medo em torno do sexo a partir de toda forma de perversidade. Educou corpos a parecem paredes frias; higienizados ao excesso, alheio ao fluxo sujo da existência como Midlands, bairro de favelas formado por trabalhadores que vinham alimentar a fome da indústria inglesa naquela época. Foi a frigidez dos ingleses que levou, em 1960, ainda, a Penguin Books ser processada pela publicação de O amante de Lady Chatterley , o romance mais conhecido de D. H