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Mostrando postagens de outubro, 2017

Uma pedra no caminho para a modernidade: o projeto drummondiano de humanizar o Brasil

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Por Thomas Sträter Os poemas do início da formação artística de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), os dos anos vinte e trinta, ainda refletem a difícil busca da estética do jovem poeta, suas incertezas e angústias, seu entusiasmo e suas idiossincrasias. Embora estes textos tenham permanecido até hoje como os mais conhecidos do poeta mineiro, carecem do amadurecimento característico de sua fase posterior. Sem dúvida neles estão definidos mais nitidamente os problemas estético-sociais de um poeta latino-americano à procura do seu lugar dentro de sua cultura específica. Em 1924, um grupo de artistas brasileiros, chefiados pelo assim chamado papa do modernismo, Mário de Andrade, viajou em busca das raízes do Brasil para o estado de Minas Gerais, famoso por sua arquitetura barroco-colonial. Na capital, Belo Horizonte, a caravana era esperada ansiosamente pelos jovens poetas mineiros; entre os quais se encontrava o jovem poeta de vinte e um anos, Carlos Drummond de Andrad

A América e os americanos, de John Steinbeck

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Por Pedro Belo Clara A América e os americanos foi lançado em 1966; reúne mais de cinquenta ensaios e peças jornalísticas produzidas ao longo de 30 anos (1936-1966), assume-se claramente como uma indispensável referência na obra de John Steinbeck, o amado autor norte-americano, prémio Nobel da literatura em 1962, funcionando com igual eficácia no papel de introdução à mesma. Ao longo desta antologia, transmitida pela peculiar sensibilidade e acurada visão do autor de A leste do paraíso , cada leitor tomará um contacto directo com a essência de diversos períodos conturbados do século vinte, desde a Segunda Guerra Mundial à fatídica Guerra do Vietname, isto sem esquecer os indispensáveis discorreres sobre a sociedade da época e as suas maiorais vicissitudes. Sendo um escritor «do povo e pelo povo», como em tempos alguém o nomeou, Steinbeck cedo granjeou a simpatia dos mais desfavorecidos através da defesa explícita dos seus convictos ideais de igualdade de oportunida

Boletim Letras 360º #242

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Uma semana marcada por muitas notícias sobre temas e nomes da linha editorial do blog. Das alegrias, como o Prêmio José Saramago a Julián Fuks e reedições de obras muito queridas, às tristezas, como a notícia que abre este Boletim, a da morte da escritora, poeta e ilustradora Angela Lago. Eis o que circulou pela linha do tempo da página do Letras no Facebook, que hoje, realiza um sorteio em que um leitor levará Zero K , de Don DeLillo e A família Manzoni , de Natalia Ginzburg. Sylvia Plath em Veneza. Ganha reedição no Brasil os diários da escritora estadunidense. Domingo, 22/10 >>> Morreu Angela Lago A ilustradora, poeta e escritora nasceu em Belo Horizonte em 1945 e seus trabalhos são essencialmente voltados para crianças e jovens. Foi mesmo uma das autoras mais importantes da literatura infantil no Brasil. Recebeu diversos prêmios por seus livros. São dela, por exemplo, livros como O bicho folharal  (2005), João Felizardo, o rei dos negócios  (2006) Um l

A partir de quando alguém que escreve se converte num escritor?

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Por Cristian Vázquez 1 Todo dia 13 de junho na Argentina é celebrado o Dia do Escritor. A data assinala o nascimento, em 1874, de Leopoldo Lugones, a figura mais conhecida da literatura deste país durante as primeiras décadas do XX. Se for para internacionalizar um pouco este assunto, pode-se acrescentar os aniversários de Fernando Pessoa, nascido em Lisboa no dia 13 de junho de 1888, e de Augusto Roa Bastos, quem chegou ao mundo em Assunção na mesma data mas de 1917, isto é, há um século e poucos dias. Em tais ocasiões em que as saudações e as felicitações vão e vêm, uma dúvida recorrente me toma mais uma vez: em que momento uma pessoa que escreve passa a ser um escritor ou uma escritora? A partir de quando alguém é escritor? Minha resposta, admito desde já, é “não sei”. Mas acredito que pensar a questão pode levar a algumas reflexões interessantes. 2 Digamos, para começar, que nos limitaremos aqui a falar de escritor a pessoa que escreve narrativa, poesia ou t

Zero K, de Don DeLillo

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Por Pedro Fernandes O título deste romance de Don DeLillo dialoga com uma extensa rede de sentidos. E a maestria do escritor, para além de uma narrativa situada entre o limite do tom objetivo realista, o poético e a ficção científica, está em fazer coincidir essa pluralidade significativa que se oferece como um conjunto de camadas diversas fundamentais para o leitor encontrar os nós das reflexões aí propostas. Essas reflexões, por sua vez, apesar do tom futurista dos acontecimentos, encontram matriz entre as principais questões que nos movem desde sempre: a morte, a limitação da vida, o que nos constitui enquanto humanos, o amor, entre outros. E também aos temas mais contemporâneos, aqueles que se tornaram pauta desde o advento da revolução tecnológica, como, quais os limites da ciência sobre a nossa existência, a ética que os move e as transformações possíveis ou utópicas no exercício de materialização daquilo com o qual sonhamos nossas fantasias mais inusitadas.