Por Pedro Belo Clara (seleção e notas adicionais) Zeca Afonso. Foto: Arquivo do jornal Público . MENINA DOS OLHOS TRISTES 1 Menina dos olhos tristes O que tanto a faz chorar? O soldadinho não volta Do outro lado do mar. Vamos senhor pensativo Olhe o cachimbo a apagar O soldadinho não volta Do outro lado do mar. Senhora de olhos cansados Porque a fatiga o tear? O soldadinho não volta Do outro lado do mar. Anda bem triste um amigo Uma carta o fez chorar O soldadinho não volta Do outro lado do mar. A lua que é viajante É que nos pode informar O soldadinho já volta Do outro lado do mar. O soldadinho já volta Está mesmo quase a chegar Vem numa caixa de pinho Desta vez o soldadinho Nunca mais se faz ao mar. CANTAR ALENTEJANO 2 Chamava-se Catarina O Alentejo a viu nascer Serranas viram-na em vida Baleizão a viu morrer Ceifeiras na manhã fria Flores na campa lhe vão pôr Ficou vermelha a campina Do sangue que então brotou Acalma o furor campina Que o teu pranto não fin
Orhan Pamuk. Foto: Basso Cannarsa. LANÇAMENTOS Em romance ambicioso, com ecos de Tolstói, o escritor Prêmio Nobel de Literatura Orhan Pamuk utiliza ampla pesquisa histórica para dar vivacidade de detalhes ao universo da ilha fictícia de Mingheira, que enfrenta uma pandemia avassaladora no começo do século XX . Uma nova doença começa a fazer vítimas em uma ilha do Império Otomano, no começo do século XX. O Químico Real do Sultão é enviado de Istambul para controlar a situação, mas é assassinado. A princesa Pakize e seu marido epidemiologista logo são despachados para o local para investigar, e assim se inicia uma saga sem igual na literatura contemporânea. Enquanto os cadáveres se empilham devido a esta enfermidade avassaladora, as questões culturais, como antagonismos religiosos e suas consequências políticas, interferem diretamente na maneira como os moradores lidam com a ameaça de saúde pública. Partindo dessa premissa tempestuosa, Orhan Pamuk esboça os principais traços de seu r
Por Pedro Fernandes Péter Nádas. Foto: Fredrik Sandberg Devido sua riqueza narrativa e simbólica, a literatura desde sempre recorreu à Bíblia como matéria criativa. O primeiro romance de Péter Nádas é um exemplo disso. O livro dos livros é recuperado no uso intertextual e funciona também como um elemento nuclear e mesmo essencial para as significações e o funcionamento da narração, esta que, à semelhança dos textos bíblicos tratados como sagrados pelas religiões que os utilizam, é apenas superficialmente simples mas complexa em sua profundidade. Articulado pela memória do narrador adulto que se desdobra sob perspectiva infantil, o que se narra em A bíblia é apenas uma curta passagem de tempo quando os dias numa casa de altos funcionários do governo comunista do tempo de Mátyás Rakosi são marcados pela chegada de Szidike, uma jovem de dezessete anos contratada para cuidar dos afazeres domésticos. Esse núcleo familiar é formado por Gyuri, quem conta a história, os pais e os avós mat
Por Pedro Fernandes William Faulkner. Foto: Henri Cartier-Bresson Palmeiras selvagens foi como ficou conhecido o livro que William Faulkner pretendeu intitular If I Forget Thee, Jerusalem e chegou a ser publicado mais tarde com esse designativo numa tentativa meio atabalhoada, comum entre os editores, de reparação do acontecido. A partir dos anos 2000 uma solução conseguiu resolver o impasse: ao The Wild Palms acrescentou-se o título original como um subtítulo. No Brasil, essa sutileza é desconsiderada porque a tradução segue como a obra aparece em Novels 1936-1940 . A decisão da Random House pela modificação do manuscrito parece confirmar que nem sempre as soluções propostas (nesse caso, imposta) por um editor parecem adequadas. É verdade que o título original soa pouco atrativo e isso do ponto de vista comercial tem sua importância; desde há muito essa tem sido uma das funções dessa figura que mete a mão no trabalho dos escritores. Agora, para um escritor como Faulkner, para qu
DO EDITOR Olá, leitores! Nesta semana vocês começaram a conhecer os novos autores que publicarão no Letras a partir desse ano; saíram os textos de estreia de Vinícius de Silva e Souza e de Guilherme de Paula Domingos. Estejam atentos que virão outros nomes na semana seguinte. Os estreantes foram os selecionados na chamada divulgada no início de 2024. Mas, se você tem interesse em publicar seu texto no blog, sabia que isso pode acontecer sem que seja um colunista? Conheça os interesses editoriais desta página, como organizar e enviar o seu texto, por aqui . Esta edição do Boletim Letras 360º é dedicada integralmente à literatura feita por mulheres e reflete a recente reabertura desse território artístico para elas. Que assim continue, porque muito ainda falta para se aterrar do grande fosso que divide homens e mulheres. Da parte deste projeto, é um pequeno gesto para o 8 de Março deste ano. Um excelente final de semana! Deborah Levy. Foto: Colin McPherson LANÇAMENTOS Um
Cristovão Tezza. Foto: Guilherme Pupo LANÇAMENTOS Cristovão Tezza reescreve e publica seu primeiro romance; inspirado nos anos em que fez parte de uma comunidade de teatro, e uma sociedade alternativa, liderada pelo escritor e dramaturgo W. Rio Apa . Antes de se tornar o renomado romancista, cronista e crítico que é hoje — com uma impressionante lista de livros publicados e laureado com vários dos principais prêmios da literatura brasileira, como o Prêmio Jabuti, Prêmio São Paulo de Literatura e Prêmio Literário Biblioteca Nacional —, Cristovão Tezza, durante os anos de 1968 a 1976, fez parte de uma comunidade de teatro, no litoral do Paraná, liderada pelo escritor, dramaturgo e teatrólogo W. Rio Apa (1925-2016). Da rica experiência comunitária, de onde se firmou o seu fascínio pelo mundo artístico e literário, nasceu Ensaio da paixão , romance com fortes traços autobiográficos, lançado originalmente em 1986, e que agora ganha uma nova edição revista pelo autor. A partir de sua viv
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